Tuesday, July 08, 2008

encontro-te

"O brilho das pedras do passeio. Pontos de luz tremem sobre a àgua fina que a noite, a chuva, deixou sobre as pedras. Eu caminho sobre a organização das pedras do passeio. Diante de mim, um manto de pontos de luz que se acendem e apagam. A sua vida é breve. A minha vida é breve. São pontos de luz que abrem caminhos para que avance. As minhas botas pousam entre esses pontos de luz a nascerem, a viverem durante um instante e a morrerem para sempre.Mil pontos de luz a morrerem em instantes diferentes, em sitios diferentes, ignorando-se e fazendo parte da mesma ordem. Pelos muros do jardim, escorre uma camada fina de àgua, pele cristalina de cálice, àgua limpida como veneno.A repousar no topo do muro, a escorrer como uma avalanche suspensa. há plantas. folhas. ramos de àrvores:braços verdes que pararam no momento em que se lançavam para agarrar alguém que, como eu, caminhava no passeio, sobre o muro do jardim e sobre os ramos que se atiram do seu topo.
Uma brisa ergue-se do interior da terra e chega a mim, a consciência de mim: o meu rosto, os meus lábios, o meu corpo tocado por essa brisa.
Caminho por essa brisa a passar por mim, como se atravessasse uma multidão invisivel. A brisa, ao tocar os meus olhos, transforma-se em lágrimas que descem frias pelo meu rosto. Os meus lábios. Sinto-as e sinto a memória das vezes que chorei o desespero parado, mais triste, de lágrimas que descem lentamente pelo rosto. O tempo passa por mim como qualquer coisa que passa por mim sem que consiga imaginar e as lágrimas, que eram apenas brisa a tocar nos meus olhos, passam a lágrimas de desespero verdadeiro. Páro no passeio. O mundo pára."

José Luis Peixoto

... encontro-te, o meu coração aquece.

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